O que é ética?
Não há dúvida de que a ética é algo que sempre esteve e está presente em todas as sociedades, que é algo que serve como uma bússola para orientar qual o caminho certo a ser tomado, sobre os pontos de vista morais. O excelente livro, do ano de 1986, O que é ética de Álvaro L.M.Valls, da editora Brasiliense, da Coleção Primeiros Passos, é um pilar para quem inicia o estudo das Letras, do Direito e da Filosofia; é um livro muito indicado pelas universidades, pois ele nos dá um vasto panorama do que significa esse conceito.
Na pesquisa pelo dicionário do Google, encontramos o significado de ética sintetizada dessa forma, que verdadeiramente é o que é:
ética
substantivo feminino
1.
Parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
2.
conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.
"é. profissional"
Agora, vamos mergulhar na leitura do nosso livro, O que é ética, e descobrir um pouco o quão vasto e complexo, é esse conceito:
A obra já começa assumindo, que falar sobre ética é algo complicado, que parece que todos nós sabemos muito bem o que ela significa, mas que explicá-la, é algo que parece quase impossível. O autor se pergunta e nos pergunta: O que é ética? O que define a ética? Seria a ética uma simples listagem de convenções sociais provisórias? E depois ele afirma: Quanto mais refletimos sobre o que significa a ética, um somatório de perguntas surgem.
Com o decorrer da leitura, entendemos que é necessário que nos apoiemos em estudos de antropologia cultural e aos costumes das diferentes épocas e lugares, para que comecemos a descrevê-la. E baseando-nos nisso, percebemos que no decorrer da história, existem variáveis que fazem com que vejamos que em alguma época e em algum lugar no passado, determinadas questões eram erradas, enquanto hoje, são consideradas certas, e vice-versa.
Tomamos conhecimento através do autor, que há documentos com grandes teorizações importantíssimas pelo menos desde os gregos antigos, há uns dois mil e quinhentos anos, mas que também é importante lembrar que as grandes teorias éticas gregas também traziam a marca do tipo de organização social daquela sociedade.
Ou seja, apesar do grande valor de suas teorizações, o enraizamento social ajuda a compreender o distanciamento entre as doutrinas escritas pelos filósofos e os costumes reais do povo e das diferentes classes, de diferentes povos, como no Egito, quanto na Índia, em Roma ou na Judéia.
A caminhada na busca de uma ética numa sociedade, talvez se dê ao conhecermos as pinturas, esculturas, tragédias, comédias, formulações jurídicas, como as do Direito Romano, as políticas, como as leis de Esparta ou Atenas, livros de Medicina, relatórios históricos de expedições guerreiras e até os livros penitenciais dos bispos medievais.
O autor cita ainda pelo início do livro, que Max Weber, pensador alemão do início do século XX, mostra que esta ética não era clara e acessível a todos, pois os protestantes, principalmente os calvinistas, sempre valorizaram eticamente muito mais o trabalho e a riqueza, enquanto os católicos davam um valor maior à abnegação, ao espírito de pobreza e de sacrifício.
Avançando na leitura, vemos que Sócrates, o filósofo grego (470-399 a.C.) e Kant, o filósofo alemão prussiano (1724-1804), logo são citados, como as duas estrelas de maior grandeza desse firmamento.
Sócrates, que aparece nos Diálogos de Platão, usando o método da maiêutica (interrogar o interlocutor até que este chegue por si mesmo à verdade), e Kant, que buscava uma ética de validade universal, que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens (Sua filosofia se volta sempre, em primeiro lugar para o homem, e se chama filosofia transcendental, porque busca encontrar no homem as condições de possibilidades e conhecimentos verdadeiros e do agir livre.). Kant acreditava em uma ética considerada abstrata, concretamente impossível de agir.
No decorrer da leitura, vamos nos deparar com outros pensadores, como Descartes, por exemplo. Descartes propunha uma moral provisória, cuidando primeiro das questões provisórias, para depois cuidar das questões práticas.
Já para Aristóteles, o homem tem seu ser no viver, no sentir e na razão, e esta última caracteriza especificamente o homem.
E assim a obra vai desfilando pelos séculos, regiões, culturas e movimentos históricos da humanidade; junto com os outros grandes pensadores como, Platão, Marx, Hegel, Schelling, Kierkegaard, Gabriel Marcel, Martin Buber, Ludwig Feuerbach, Sartre, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Spinoza e Maquiavel.
A ética também foi buscada em estudos feitos dentro da religião; a religião grega, como muitas outras antigas religiões, eram mais naturalistas, sendo os deuses muitas vezes quase apenas personificações das forças naturais, como o raio, a força, o amor e até a guerra. Já com a religião judaica, a questão se modifica; o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, não se identifica com a força da natureza, estando assim, acima de tudo o que é natural.
O agir do homem agora, é de acordo com a vontade de Deus, em termos éticos ou morais, isso tem uma consequência profunda, ele não pode satisfazer-se mais com a resposta que manda agir de acordo com a natureza. A revelação de Deus não é uma exposição teórica, mas é toda ela
voltada para a educação e o aperfeiçoamento do homem. O homem busca ser santo, como Deus no céu é santo.
Hegel mostra que a liberdade não pode ser apenas exterior, nem
apenas interior, e que ela se desenvolve na consciência e nas estruturas. A consciência da liberdade, não é a liberdade efetiva, ou seja, real. Hegel procurou, desde sua juventude, nos tempos da Revolução Francesa, uma síntese da política grega e da moral cristã, onde cada indivíduo fosse realmente livre,
interior e exteriormente. Pois não basta que nos sintamos livres, é preciso que saibamos que realmente somos livres, num Estado organizado que garanta a liberdade de todos e de cada um.
Mas até mesmo o sistema de Hegel, que coloca tudo num processo impressionante, recebe críticas de pensadores como, Kierkegaard, Jaspers, Heidegger,
Merleau-Ponty e Sartre. Eles insistem, de diferentes maneiras, sobre a crítica de que Hegel teria esquecido a dimensão
propriamente humana e individual da liberdade.
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