O Brincador











O Brincador


Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.

Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.

Quero brincar de manhã à noite, seja no que for.

Quando for grande, quero ser um brincador.


Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.

Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.

Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador…


A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.


A vida é assim? Não para mim.

Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta.

Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»


Álvaro Magalhães, edições Asa.


Imagem de John Henry Hintermeister (Suíça, 1869-1945)





O Brincador é uma coletânea de poemas do escritor português, Álvaro Magalhães, que tem cativado sucessivas gerações de leitores de todas as idades.


Este texto se encontra no livro de coletâneas de poemas do escritor português de mesmo nome, Álvaro Magalhães, das edições Asa. Um texto que considero belíssimo, com uma linguagem inocente, bem humorada e que apesar de nos remeter a infância, por ser um texto no qual se faz entender que o protagonista é uma criança, que faz várias declarações sobre o que ele vai ou não vai ser ou sobre o que ele vai ou não vai fazer, também nos transporta para o futuro, lembrando-nos da transitoriedade da vida, quando ele cita a chegada da morte.


Na minha interpretação pessoal, eu me identifiquei muito, pois o texto expressa que, o que ele fazia, fazia com amor, "acordava cedo para brincar com as palavras", seu ofício era como se não fosse um trabalho. Esse é o ofício do escritor. 


 Sempre achei que a vida deve ser vivida com paixão, sempre achei que certas coisas nunca devem mudar, que devemos manter viva a criança que um dia fomos, mesmo já velhos, dentro de nós.


 Entendo com o texto, que podemos nos tornar o adulto, o profissional no segmento que for, ainda vivendo a vida com alegria, nos divertindo, rindo, aproveitando cada momento, pois enquanto há vida, há muitos motivos para se alegrar. 


Esta obra é uma recuperação de poemas já anteriormente publicados em Isto é Que Foi Ser! (1984), O Reino Perdido (1986) e O Limpa-Palavras e outros poemas (2000), onde o autor junta alguns inéditos.

http://quemcontaumcontosoueu.blogspot.com/2009/06/o-brincador-de-alvaro-magalhaes.html?m=1




Álvaro Magalhães (Porto, 1951) é um escritor português de livros e contos para crianças. Começou sua carreira nos anos 80 e publicou seu primeiro livro para crianças em 1982, Histórias com Muitas Letras. 

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Magalh%C3%A3es


Completando neste ano de 2023, 41 anos de vida literária, a sua obra para crianças e jovens, integra poesia, conto, ficção e textos dramáticos. Foi várias vezes premiado pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Ministério da Cultura.

https://www.portoeditora.pt/produtos/ficha/o-brincador/25145967




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